Livro celebra legado da Ialorixá Hilda Jitolu, matriarca do Ilê Aiyê
O Instituto Mãe Hilda e a Fundação Rosa Luxemburgo lançaram o livro biográfico “Mãe da Liberdade: a trajetória da Ialorixá Hilda Jitolu, matriarca do Ilê Aiyê”, nesta segunda-feira, 15, na Senzala do Barro Preto.
Idealizada pela neta de Hilda Jitolu, Valéria Lima, a obra narra a vida da Ialorixá que fundou um dos mais conhecidos terreiros de candomblé na Bahia, o Axé Jitolu. Além disso, Hilda contribuiu para a fundação do primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, e foi grande incentivadora da educação do povo negro e periférico.
Mãe Hilda completaria 101 anos em fevereiro
A publicação é resultado de uma pesquisa conduzida entre 2012 e 2014, como parte do mestrado em Estudos Étnicos e Africanos da jornalista Valéria Lima, neta da Ialorixá e diretora-executiva do Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu.
Valéria considera a publicação do livro como a realização de um sonho e lembra o que a incentivou a materializar o legado de sua avó, uma ancestral bastante respeitada e inspiração para mulheres negras.
“Um dos pilares da gente é preservar a memória de mulheres negras para as próximas gerações. A gente precisa de inspiração, precisa conhecer a história das nossas ancestrais para que a gente dê passos mais longos e voos mais altos do que elas foram capazes de dar”, disse a jornalistas.
Neta de mãe Hilda, Valéria é a idealizadora da obra
A escritora acredita que sua missão e seu compromisso são eternizar a história, não só de Mãe Hilda de Jitolu, mas também de outras mulheres negras:
“Desde que eu entrei na graduação, criei consciência de que esse era o meu compromisso, essa era a minha missão nessa encarnação. Esse é o primeiro passo, espero que venham outros livros, que eu tenha a oportunidade de contar a história de outras mulheres, para que as próximas gerações tenham em quem se inspirar e possam ler, sentir materializada a história dessas pessoas”.
Ela acredita que contar a história de uma mulher negra que não teve acesso à educação, foi uma liderança de religião de matriz africana e contribuiu para a construção do primeiro bloco afro do Brasil, diz às próximas gerações que elas são capazes de tudo.
“Se ela, sem nenhum acesso, fez o que fez, eu estou dizendo para as próximas gerações: a gente pode ser o impossível. O que você acha impossível hoje, você pode ser. É sobre contar e eternizar essa história e inspirar as próximas gerações para que as pessoas entendam que existiu essa grande mulher na nossa sociedade.”
Filho de Mãe Hilda Jitolu e tio de Valéria, Vovô do Ilê Aiyê se emociona ao contar que o legado de sua mãe está sendo materializado para que os mais novos possam dar continuidade a essa história:
“Nós falamos muito a história que não foi contada, porque essa história de mãe aqui com a comunidade já vem bem antes do Ilê Aiyê. E quando surgiu a ideia do Ilê, ela abraçou totalmente e continuou o barracão sendo um espaço sagrado que a gente frequentava, fazia reuniões. Na época da entrega de fantasia, era lá, a costura era lá, tudo acontecia lá no Ilê Axé Jitolu. Ela sempre foi uma grande guardiã, realmente, daqui da comunidade”.
A estilista das deusas do ébano, Dete Lima, mãe de Valéria, considera este lançamento um marco. “Para mim, hoje é um dia de agradecimento. É um dia de agradecer ao Deus ancestral, aos orixás, por eu estar aqui participando desse momento tão importante da vida de nossa família. Ver a história de vida de minha mãe ser contada por sua neta, minha filha Valéria Lima. Então, é um dia de só agradecer a tudo”, celebra.
Ela acredita que ter sua filha responsável pela obra confirma que, enquanto mãe, está no caminho certo. Dete pontua que está vendo sua filha receber o ensinamento que ela recebeu da mãe, e ver o passar adiante é emocionante.
“O legado que Mãe Hilda deixou, os ensinamentos que deixou, eu já passei para minha filha e ela vai passar, está passando para o mundo quando conta a história de Mãe Hilda, com detalhes importantíssimos de nossas vidas que ninguém nunca falou. E hoje ela fala para o mundo saber”.
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