Bahia registra alta nas internações por acidentes de motociclistas

A Bahia tem enfrentado um aumento alarmante no número de internamentos por acidentes de motos em 2024. Dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET) revelam que, entre janeiro e maio de 2024, houve um crescimento de 13,7% nas internações devido a acidentes de motociclistas em comparação ao mesmo período de 2023. Foram registrados 4.677 casos em 2024, comparados a 4.115 no período de janeiro a maio de 2023.

“Nós interpretamos com muita preocupação o aumento desses números de acidentes, tendo em vista a letalidade desse tipo de ocorrência. Acreditamos que fatores como o aquecimento da economia, especialmente o aumento do uso de transporte por aplicativo e motocicletas, podem ter contribuído para esse crescimento”, conta Genésio Luide Souza, especialista em trânsito.

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Vulnerabilidade

Os motociclistas representam uma parcela significativa dos usuários das vias urbanas e rodoviárias e enfrentam um risco elevado de acidentes devido à sua maior exposição e vulnerabilidade em relação aos veículos maiores, além das condições adversas do trânsito.

“No trânsito, há uma regra fundamental no artigo 29: o veículo de maior porte é responsável pela segurança do de menor porte, os motorizados pelos não motorizados, e todos pela segurança do pedestre. É preciso que os veículos de maior porte fiquem atentos, principalmente em relação ao motociclista, que pode estar no ponto cego dos outros veículos”, completa o especialista.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) desempenha um papel crucial no atendimento a esses casos. Entre 1º de janeiro e 25 de julho de 2024, o Samu registrou um total de 2.116 acidentes envolvendo motocicletas na cidade de Salvador e Região Metropolitana.

O Gerente Executivo do Samu, Dr. Ivan Paiva, destaca a gravidade da situação. “Quando você está em um carro, a estrutura metálica oferece proteção, mas em uma moto, não há essa proteção, o que aumenta o risco de lesões graves em caso de acidente. Muitas vezes, mesmo uma colisão a baixa velocidade pode causar queda e o risco de ser atropelado por outro veículo. Esses fatores contribuem para uma alta taxa de mortalidade e gravidade dos acidentes, muitas vezes envolvendo fraturas e lesões incapacitantes, especialmente entre a população jovem, que é a principal usuária das motos”, conta Ivan.

A Transalvador, órgão responsável pela gestão do trânsito na capital baiana, também tem observado a situação com preocupação. Em 2022, foram registrados 57 acidentes fatais e 2.024 acidentes com feridos envolvendo motocicletas. Já em 2023, os números aumentaram para 68 acidentes fatais e 2.626 com feridos. Esses dados indicam uma crescente nos acidentes envolvendo motociclistas na capital baiana.

Apesar desses números, Salvador ainda tem demonstrado certo avanços na redução dos impactos do trânsito. Das 808 mil infrações registradas na cidade entre julho de 2023 e junho de 2024, apenas 7,49% foram cometidas por motociclistas. Além disso, a cidade se destaca como uma das capitais brasileiras com a menor taxa de mortalidade no trânsito por 100 mil habitantes, mesmo com um aumento de 31% na frota de veículos no período.

Risco do celular

Para Henrique Balthazar e Marcelo José Barbosa, integrantes do Sindicato dos Motociclistas, Motoboys e Mototaxistas do Estado da Bahia (SINDMOTO-BA), a utilização do celular durante a condução tem sido um dos maiores culpados pelo aumento da taxa de acidentes. “Um fenômeno novo e absurdo que precisa de um trabalho de conscientização é a imensa quantidade de pessoas falando no celular enquanto pilotam motocicletas. Muitos motociclistas, ao fazerem entregas, utilizam o mapa na tela do celular e pilotam com uma mão só”, alertam.

A preocupação com a segurança no trânsito vai além da simples observação de comportamentos arriscados. A realidade enfrentada pelos motociclistas, que muitas vezes precisam equilibrar a necessidade de rapidez com a segurança, revela um dilema complexo. O uso do celular para consultar mapas e coordenadas durante a condução, enquanto tentam atender ao maior número de pedidos possível, é um reflexo dessa tensão entre eficiência e risco.

De acordo com um levantamento realizado pela Fundacentro em 2021, 33% dos entregadores de aplicativos relatam já ter sofrido algum tipo de acidente durante o trabalho. “Como muitos ganham por produção, quanto mais rodam, mais ganham. Portanto, querem rodar o máximo possível, fazendo o maior número de entregas no menor tempo possível. Isso leva à necessidade de velocidade e do uso do celular para indicar os endereços dos pedidos. Isso tem sido uma grande preocupação”, complementa Henrique.

Medidas preventivas

Com a crescente preocupação com a segurança dos motociclistas em meio à pressão por produtividade, é essencial buscar soluções que promovam um trânsito mais seguro e organizado. A implementação de medidas que melhorem as condições de trabalho e a segurança desses profissionais pode ser um passo crucial.

“Em São Paulo, há estudos que mostram que, em áreas onde a faixa azul foi implementada, houve uma redução significativa no número de acidentes. Durante um período de um ano, praticamente não houve óbitos envolvendo motociclistas. A faixa azul, na verdade, é um corredor regulamentado e prioritário para os motociclistas. Esse corredor é respeitado pelos motoristas, permitindo que os trabalhadores transitem de forma mais segura e fluida, sem a necessidade de procurar atalhos para passar”, conta André Freire, vice-presidente da Associação dos Motoentregadores da Bahia.

Essa medida em Salvador já foi anunciada pelo prefeito Bruno Reis em 8 de maio, quando ele prometeu a implementação da nova faixa na capital baiana nos próximos meses. A expectativa é que, assim como em São Paulo, a faixa azul traga benefícios significativos para a segurança dos motociclistas, proporcionando um espaço dedicado e regulamentado para que possam se deslocar com mais segurança.

*Sob a supervisão do jornalista Luis Lasserre





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