5 baianas para conhecer na arte

A rainha Lore Bispo, do Ilê –

Data celebrada nacionalmente, o Julho das Pretas encerra oficialmente nesta quarta-feira, 31. A capital baiana foi palco de diversos eventos em fortalecimento da luta e resistência da mulher negra para reafirmar a necessidade de enfrentar o racismo e o sexismo vivido até os dias atuais por mulheres que sofrem com a discriminação racial, social e de gênero.

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O ápice das comemorações ocorreu na última quinta-feira, 25 de julho, quando foi comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Mas a luta segue.

Para fortalecer a arte e a cultura negra dessas mulheres, o Portal A TARDE listou cinco artistas baianas pretas de cinco linguagens artísticas para conhecer.

Confira:

Dança

17⁰ Festival Latinidades

17⁰ Festival Latinidades | Foto: Foto: Uendel Galter | AG. A TARDE

Lorena Bispo, mais conhecida como Rainha Lore Bispo, moradora do bairro de Itapuã, é artista da dança, escritora, pesquisadora, multiplicadora cultural, graduanda em Bacharelado Interdisciplinar pela UFBA e Rainha do Bloco Afro Malê Debalê, assim como Princesa do Bloco Afro Ilê Aiyê.

Segundo Lore, sua trajetória na dança se começou desde o útero de sua mãe, Rosangela Xavier, que dançava durante a gestação. Ser oriunda de uma família de terreiro de candomblé também foi um pilar para fortalecer sua identidade. “É um espaço onde eu também me entendo enquanto uma criança negra; eu tenho consciência da minha identidade”, pontuou.

A dançarina comentou sobre a importância do Julho das Pretas em relação à mulher negra na sua arte de dançar: “É o momento da gente celebrar as nossas, celebrar as que nos antecederam, celebrar as que estão presentes ainda lutando, persistindo e insistindo nas novas lutas, nas novas demandas.”

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“Enquanto eu tiver vida, continuarei utilizando. Eu não sou negona ‘malassombrada’ só no carnaval, não sou negona malassombrada só no mês de julho e não sou também negona malassombrada só no mês de novembro. Eu entendo que essa valorização precisa perdurar, continuar e ser fortalecida durante o ano inteiro. Sobretudo na dança, em que percebemos que a valorização só acontece em momentos pontuais”, completou.

Teatro

Gi Uzêda, 25 anos, moradora do bairro do Engenho Velho de Brotas, é atriz e tem sua trajetória marcada pela dedicação e paixão ao teatro. Iniciou sua carreira aos 15 anos, integrando um grupo teatral local. Desde então, a artista tem participado de diversos projetos e, mais recentemente, teve a oportunidade de ingressar no audiovisual com a série de comédia nacional da Netflix, “Nada Suspeitos“. Atualmente, Uzêda participa de projetos educativos e sociais que promovem a inclusão e o empoderamento da comunidade afrodescendente.

Atriz Gi Uzêda, 25 anos

Atriz Gi Uzêda, 25 anos | Foto: Divulgação | Fernanda Capri

De acordo com a atriz, o mês dedicado à Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é crucial para aumentar a visibilidade e valorização das mulheres na atuação, pois destaca suas contribuições significativas para as artes e a cultura. Gi acredita que o mês de julho promove uma representação mais diversificada e inclusiva nos meios artísticos, reconhecendo suas histórias, desafios e conquistas dentro da indústria cultural e cinematográfica.

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Uzêda, enquanto mulher negra e atriz, aproveitou para pontuar sobre os movimentos negros na sociedade: “Essa celebração também incentiva debates sobre igualdade de gênero e racial, fortalecendo o movimento por mais oportunidades e reconhecimento para as mulheres afrodescendentes na atuação e em outras áreas relacionadas às artes”, concluiu a atriz.

Capoeira

Ana Cláudia, 47 anos, moradora do bairro de São Cristóvão, é capoeirista e instrutora de Zumba Aos 9 anos, seu pai a levava ao Mercado Modelo, onde ela passou a assistir às rodas. “Descobri assistindo às rodas que eu tinha identidade”, pontuou Cláudia, que é mãe de 3 filhos. Aos 14 anos, começou a trabalhar como empregada doméstica e, ao ser vítima de atos racistas, passou a acreditar na capoeira como uma arte de educação.

Capoeirista e instrutora de Zumba, mãe de 3 filhos

Capoeirista e instrutora de Zumba, mãe de 3 filhos | Foto: Arquivo pessoal

“Sou instrutora de capoeira e ministro aulas na minha comunidade para as crianças. Vi a importância de prepará-los através da capoeira no enfrentamento racial em todas as áreas. Sabemos que as escolas não ensinam as verdadeiras histórias de reis e rainhas escravizados, mas a capoeira ensina. Venho tendo grandes resultados que os fortalecem na ancestralidade, na identidade, no empreendedorismo e no empoderamento preto”, contou Cláudia.

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Segundo a capoeirista, enquanto mulher preta, a importância do mês dedicado à Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é evidenciar a presença das mulheres negras nos mais diversos cargos dentro e fora da capoeira, deixando um legado para fortalecer a atualidade de hoje, mas também reverenciando aos que deixaram seu legado.

Percussão

Magda Paim, percussionista, diretora financeira da banda do Olodum, 44 anos, mãe e moradora do bairro da Saúde, faz parte da banda afro desde os 9 anos de idade. Ela se define como a preta “invocada” que gosta de sorrir e dançar, mas é de pouca conversa.

Imagem ilustrativa da imagem Julho das Pretas: 5 baianas para conhecer na arte

| Foto: Arquivo pessoal

Segundo a percussionista, a música, especialmente a percussão, tem sido uma forma de expressão e resistência, sendo o seu momento de transmitir várias emoções. Ela traz influências da cultura afro-baiana no trabalho musical, no samba, no samba-reggae e no merengue.

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Paim pontua que as mulheres negras na música e na percussão enfrentam muitas dificuldades para entrar no mercado de trabalho e enxerga o movimento da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha como uma oportunidade para refletir sobre o empoderamento das mulheres nas artes.

Literatura

Jaisy Cardoso, escritora, pesquisadora, mestranda em literatura e cultura, mediadora cultural e moradora do bairro da Federação, é bastante comunicativa, mas tem dificuldade em expressar sobre sua própria vida. A poeta encontrou na literatura um lugar de confidência, onde pudesse dividir suas experiências.

“Eu senti falta de alguns tipos de histórias sendo contadas ali. Por exemplo, até determinado momento da minha vida, eu não conhecia um conto de amor, amor amado, afeto, em que os personagens eram negros e essa história de amor era uma história que dava certo. Então, essa falta de alguns tipos de narrativa me levou a começar a fabular um mundo possível”, explicou Cardoso.

Imagem ilustrativa da imagem Julho das Pretas: 5 baianas para conhecer na arte

| Foto: Arquivo pessoal

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De acordo com a pesquisadora, o movimento em homenagem às mulheres negras, em referência ao mês de julho, é importante para compreender as diferenças nas lutas das mulheres negras e das mulheres brancas. Ela acredita que é um momento de tornar o movimento de construção de uma arte produzida, pensada e elaborada por mulheres negras ainda maior.

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“Eu acho que compreender a diferença dessas mulheres, das lutas dessas mulheres, da experiência dessas mulheres, desemboca também em compreender que as vivências e subjetividades forjadas a partir da raça também são diferentes. Nós, mulheres negras, temos pautas, desejos e buscas diferentes das mulheres brancas. Então, nesse sentido, agradeço.”

A escritora continua: “Eu acredito que também seja importante pensar na literatura de nós, mulheres negras, de uma forma que traga outros temas, outras reivindicações, outras pautas. Devemos estar preocupadas com outras questões. Então, eu acho que esse dia, que representa tanto para nós e para nossa luta como mulheres negras, também deve ser um dia para pôr em pauta a produção artística de nós, mulheres negras, dentro e fora da literatura. Deve haver um movimento ainda maior de visibilização das nossas produções, porque não é fácil se dizer escritora, poeta”, completou.

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