O falso “professor”
A proibição do uso de aparelhos celulares por estudantes, nos momentos de convívio na rotina escolar, pode até produzir conflito, em uma primeira análise, com um dos pilares do Estado democrático, o da liberdade, no entanto, o remédio amargo torna-se necessário quando se verifica a instabilidade dos efeitos da tecnologia na formação da juventude, após o impacto sobre os pais, na primeira geração de internautas.Inventada com a proposta libertária de plenitude da autonomia dos usuários, em arquitetura horizontal impossível de controle por parte de autoridades e governos, a internet acelerou a comunicação instantânea, o armazenamento de dados e a velocidade de conectar as pessoas; no entanto, esqueceram-se os pioneiros do ciberespaço da possibilidade do uso indiscriminado para propagação de falsidades.Mentiras repetidas formando crenças; desprezo por valores morais; distúrbios de comportamento e dores psíquicas; idolatria das massas por “influencers” de caráter torpe; adesão a ideologias totalitárias e preconceitos rançosos de etnia, classe social, gênero e orientação sexual: são muitos os males a escapar ao abrir o jarro a curiosa Pandora contemporânea, em movimento online para offline de alta periculosidade.A proposta em gestação, pelo governo federal, une as redes pública e particular, recuperando-se não apenas o poder da caneta, do papel, da borracha e do livro impresso, mas principalmente a batuta dos professores, hoje com aura em declínio devido à sensação de conhecimento escrevendo palavras-chave nos buscadores de “sites”, bloqueando-se de modo automático o saber dos mestres.Como a ruptura dos padrões de sociabilidade em sala de aula tem ocorrido bruscamente, e em rapidez jamais experimentada em anteriores trocas de paradigma, a medida tem o condão de pedir à cidadania o tempo de amadurecimento para se aprender a lidar com a máquina, além de bem e mal, protegendo-se a nova humanidade, hoje acessando trilha fascinante, porém íngreme, beirando abismo de danos irreversíveis.
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