Jovem com ‘pior dor do mundo’ faz desabafo sobre abuso e agressões
Arruda foi hospitalizada no dia 8 de julho na Santa Casa de Alfenas, em Minas Gerais –
A estudante de medicina veterinária, Carolina Arruda, de 27 anos, que é portadora da neuralgia do trigêmeo, considerada a pior do mundo, contou ter sofrido abusos, ameaças e agressões na infância. Ela resolveu comentar sobre o assunto após achar que, para tratar a doença física, era necessário tratar a dor psíquica.
“A dor é um peso que pode moldar nossas vidas de formas inesperadas”, disse Arruda. Ao portal G1, ela contou os casos não foram registrados na polícia pelo medo expor a situação à época. “Eu quero que as mulheres falem, que não se calem. Eu guardei isso por muitos anos e foi muito prejudicial pra mim”, contou. Aos 6 anos, ela foi abusada sexualmente por um familiar.
“Eu sempre fui uma criança muito criativa. Adorava brincar, fingir que estava dando aula para os meus animais. Tinha o sonho de ser professora, eu sempre gostei muito de animais. Mas eu comecei a me retrair muito. Comecei a ficar uma criança triste. Isso começou porque eu fui abusada por um parente meu. E eu fui abusada dos 6 aos 12 anos dentro da minha própria casa”, contou.
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De acordo com ela, as ameaças eram constantes e a vítima acreditou que a sua segurança estava em silenciar.
“Ele me batia, ele me enforcava e ele me ameaçou de morte várias vezes se eu contasse para alguém. Ele ameaçou matar minha mãe, minha avó. […] Eu era criança, eu não entendia nada, então eu realmente achei que ele faria uma coisa daquela. E, com o tempo, eu passei a achar que o que ele estava fazendo comigo era minha culpa”, desabafou.
Aos 13 anos, sua saúde começou a dar sinais de que havia algo errado. “Tinha muitas dores de cabeça, muitos desmaios por conta da dor”, explicou. Arruda começou a namorar nessa época e, com o relacionamento, apareceram novos abusos. “Ele era competidor de academia e ele era muito forte. E eu lembro que ele segurava no meu pescoço com uma mão só e olhava bem dentro do meu olho e ia apertando, até que eu perdesse as forças. A hora que eu perdia as forças na perna, ele parava”, afirmou.
Aos 16 anos, Carolina engravidou. “Quando eu contei para ele que estava grávida, ele disse que eu tinha que abortar”, lembra. “Foi a primeira vez que consegui enfrentá-lo. Disse que ia cuidar da minha filha.”
“Ele disse que não estava pronto para ser pai e eu disse: ‘eu não tô pronta pra ser mãe, mas se veio um neném é porque a gente tem condições de cuidar, então eu vou cuidar da minha filha’. E ele não quis, depois nunca mais tocou no assunto”, conta.
Durante a gravidez, a estudante contraiu dengue e de repente se viu tendo crises severas de dor. “Eu lembro da minha primeira crise. Eu lembro que eu estava sentada no sofá da casa da minha avó. Meu pai estava do meu lado. E na hora me deu um choque muito forte. E nesse choque da crise, eu só conseguia gritar. Eu batia as pernas, esperneava e gritava, gritava, gritava muito. Depois que a crise foi embora, eu não conseguia explicar pro meu pai o que eu tinha sentido naquele momento”, relatou.
Atualmente, a filha dela tem 10 anos e permanece vivendo na casa da bisavó. Há cerca de três anos, Carolina Arruda se casou com Pedro Leite, que convive de perto com as limitações causadas pela doença e acompanha a esposa no tratamento. Arruda foi hospitalizada no dia 8 de julho na Santa Casa de Alfenas, em Minas Gerais, para se submeter a um novo tratamento com o objetivo de aliviar as dores.
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