Campanha digital assume papel de destaque nas eleições
O tradicional aperto de mão nas ruas tem a cada dia dividido mais espaço com as peças de campanha eleitoral veiculadas nas redes sociais. Se antes, os candidatos apelavam para o corpo a corpo, agora o mundo digital é um aliado tão importante quanto na hora de atrair a atenção do eleitor e convencer a depositar o voto nas urnas.
Paulo Maneira, diretor da agência Yellowfant, pontua o papel assumido pelas redes sociais nas eleições, aproximando o candidato e o eleitor, chegando a ultrapassar, em alguns casos, o impacto da mobilização nas ruas. Com 20 campanhas eleitorais no currículo, sendo coordenador em 12 delas, o jornalista os meios digitais atuam como ferramentas de divulgação dos postulantes.
“A mobilização nas ruas nunca será totalmente substituída, mas é possível afirmar que as eleições já conquistaram um grande espaço no ambiente virtual. As redes sociais, além de funcionarem como uma ferramenta de divulgação, desempenham um papel essencial no relacionamento com os eleitores. Em muitas campanhas, o meio digital chega a superar o corpo a corpo nas ruas, mas isso não pode ser considerado uma regra universal, pois cada campanha tem suas particularidades”, afirma em entrevista ao Portal A TARDE.
Márcio Costa, que também trabalha com markerting político voltado para o mercado digital, disse acreditar que as ruas e o ambiente digital se completam. Para ele, as redes ajudam a ampliar o público, enquanto o trabalho do corpo a corpo faz com que o candidato pareça “real” diante do seu eleitor.
“Eu acredito que se complementam. Enquanto o ambiente digital permite um alcance mais amplo e com possibilidade de ser feito por gênero, faixa etária e região, o corpo a corpo com os eleitores permite o contato com as demandas das comunidades e torna o candidato real”, defende o jornalista.
A pandemia da Covid-19, em 2020, também impulsionou o mundo digital como ferramenta de campanha para candidatos. Paulo Maneira aponta que os políticos que já haviam iniciado o trabalho voltado para as redes antes do período saíram em vantagem com relação aos que adotaram o método de maneira definitiva apenas por causa do cenário de restrição.
“Durante a campanha de 2020, devido à pandemia, muitos políticos foram obrigados a se adaptar às redes sociais. Com o distanciamento social e os eleitores em casa, a internet assumiu o papel de protagonista nas eleições, especialmente em cidades que não contavam com programas eleitorais em rádio e TV. O maior desafio de algumas campanhas foi entender o digital como a principal, ou única, forma de fazer campanha, já que os movimentos de rua eram limitados. As candidaturas que já vinham construindo uma reputação digital antes da pandemia tiveram vantagem sobre aquelas que precisaram se adaptar naquele momento, reforçando a ideia de que a imagem de um candidato nas redes não se constrói da noite para o dia, sendo necessário planejamento”, afirma Paulo Maneira.
Ao comentar as mudanças impostas pela Covid e pelo isolamento social, Márcio Costa segue a mesma linha. Ele ainda prega que o mundo digital permite que a população tenha maior acesso ao trabalho feito pelos políticos escolhidos nas urnas.
“A campanha municipal de 2020 foi feita com uma série de restrições por conta da pandemia e como afastou os candidatos dos eleitores, a alternativa foi o ambiente digital. Este ano, eu acredito, será possível avaliar a combinação de campanha tradicional com a campanha digital numa eleição onde tradicionalmente a disputa é mais acirrada. Afinal, o trabalho do vereador permite um acompanhamento e cobrança do eleitor por lidar com questões do dia a dia da cidade”, diz.
Transição
A campanha via redes sociais começou a ganhar força em 2008, na avaliação de Maneira, com a campanha de Barack Obama, eleito presidente dos Estados Unidos na época. Ele também traz como outro case de sucesso a eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018. O então candidato ao Planalto tinha sete segundos na televisão, mas usou dos canais digitais para atingir grande parte da população, ainda que em um formato amador.
“O maior case de sucesso em campanhas eleitorais continua sendo a eleição de Barack Obama nos Estados Unidos em 2008, quando o formato digital ganhou destaque nas estratégias eleitorais. Sabemos que o bolsonarismo é resultado de um processo de insatisfação popular que se originou nas ruas durante o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. No entanto, não há como negar que Bolsonaro soube utilizar muito bem esse contexto e os canais digitais para amplificar seu discurso de forma inimaginável, construindo sua imagem diante dos eleitores”, explicou.
Eleições municipais
Segundo levantamento divulgado em agosto, o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), lidera o Índice de Popularidade Digital (IPD), medido pela Folha de S. Paulo, com 74,7 pontos. O vice-governador e também candidato à prefeitura, Geraldo Júnior (MDB), aparece na segunda colocação, com 38,5 pontos, seguido por Giovani Damico (PCB), com 33,4.
Márcio Costa diz que a equipe de Bruno sabe dividir os conteúdos para as redes sociais e para a televisão, com peças virais nas plataformas digitais e propostas sérias do seu plano de governo.
“Nas redes sociais do prefeito Bruno Reis tem muito material feito para viralizar, enquanto que as propostas são apresentadas no rádio e na TV. Para afirmar que a estratégia digital foi adequada e eficiente, só quando contarmos os votos”, explica.
Atenta à mudança que vem ocorrendo na forma de fazer campanha, a Justiça Eleitoral mudou a legislação para acolher o modelo digital, com regras que versam sobre o assunto. Em entrevista recente ao A TARDE, o advogado eleitoralista Neomar Filho falou acerca dos riscos.
“Das últimas eleições municipais pra cá é possível identificar um aumento considerável no uso de ferramentas digitais para os atos de campanha. Os modelos tradicionais de propaganda têm ficado menos importante no contexto atual, tendo em vista, por exemplo, o impacto das redes sociais para o convencimento do eleitor. Mas, apesar de servirem como instrumento para potencializar o pedido de voto, muitas das vezes são utilizadas para distorcer a verdade, criando uma realidade paralela, tudo para prejudicar um candidato ou um grupo político. As fake news, que já apontavam preocupação, deram lugar, agora, às deep fakes e à inteligência virtual, quem possuem uma enorme capacidade de confundir o cidadão. A Lei, para as eleições desse ano, facilitou o poder de polícia da Justiça Eleitoral para a remoção de conteúdos na internet, o que tem ajudado no combate à desinformação”, pontuou.
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